sexta-feira, 29 de maio de 2009

Adivinha o quanto eu gosto de ti...


"A pequena lebre cor de avelã, que ia deitar-se, agarrou-se firmemente às longas orelhas da grande lebre cor de avelã. Queria ter a certeza de que a grande lebre cor de avelã estava a ouvi-la:
- Adivinha quanto gosto de ti. - disse ela.
- Oh, não sei se sou capaz de adivinhar isso! - disse a grande lebre cor de avelã.
- Isto tudo! - disse a pequena lebre cor de avelã, esticando os braços para os lados tão longe quanto podia.A grande lebre cor de avelã tinha os braços ainda mais compridos.
- Mas eu gosto de ti isto tudo! - disse.Hmmm… Isso é muito, pensou a pequena lebre cor de avelã.
- Gosto de ti tão alto quanto consigo alcançar! - disse a pequena lebre cor de avelã.
- Eu gosto de ti tão alto quanto eu consigo alcançar. - disse a grande lebre cor de avelã.Isso é mesmo muito alto, pensou a pequena lebre cor de avelã. Quem me dera ter braços assim. Então, a pequena lebre cor de avelã teve uma boa ideia. Fez o pino e chegou com os pés ao tronco da árvore.
- Gosto de ti até à ponta dos meus pés! - disse.
- E eu gosto de ti até à ponta dos teus pés! - disse a grande lebre cor de avelã, balançando-a no ar.
- Gosto de ti tão alto quanto consigo saltar! - disse a pequena lebre cor de avelã rindo e saltitando.
- Mas eu gosto de ti tão alto quanto eu consigo saltar. - sorriu a grande lebre cor de avelã e saltou tão alto que as suas orelhas tocaram nos ramos da árvore.Que belos saltos, pensou a pequena lebre cor de avelã. Quem me dera conseguir saltar assim.
- Gosto de ti por aquele caminho abaixo, até ao rio. - gritou a pequena lebre cor de avelã.
- Gosto de ti até depois do rio e das montanhas! - disse a grande lebre cor de avelã.
Isso é muito longe, pensou a pequena lebre cor de avelã. Já estava tão ensonada que mal conseguia pensar.
Então, olhou a grande noite escura por entre os arbustos. Nada poderia estar tão longe quanto o céu.
- Gosto de ti até à Lua. - disse, fechando os olhos.
- Oh, isso é longe - disse a grande lebre cor de avelã
- Isso é mesmo muito longe.
A grande lebre cor de avelã deitou a pequena lebre cor de avelã na sua cama de folhas. Inclinou-se sobre ela e deu-lhe um beijo de boas-noites.Então, deitou-se bem perto e sussurrou com um sorriso:
- Gosto de ti até à Lua… e de volta até à Terra."
Esta é a história da Pequena Lebre Castanha e da Grande Lebre Castanha, de Sam McBratney (texto) e Anita Jeram (Ilustração) da Editorial Caminho que aconselho a todos que leiam, porque os bons livros infantis falam tanto às crianças como aos adultos (podem é dizer coisas diferentes!).
Pelo menos comigo falam!

2 comentários:

Anónimo disse...

Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos. Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles. A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objecto dela se divida em outros afectos; enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade.

Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e que minha vida depende de suas existências...

A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar!

Muitos deles estão lendo este texto e não sabem que estão incluídos na minha sagrada relação de amigos. Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure.

E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida. Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado. Se todos eles morrerem, eu desabo! Por isso é que, sem que eles saibam, rezo pela vida deles. E me envergonho porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.

Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles. Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer... Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus verdadeiros amigos!

"A gente não faz amigos.... reconhece-os."

Joana Esteves disse...

A história já conhecia (e obrigada por a publicares para que possa ser partilhada para mais pessoas!!)... mas este comentário... palavras de ouro! =D Deve ser bom ser amigo/a desta pessoa que valoriza tanto a amizade!!